Hipospádias

Por Samuel Abner da Cruz Silva




Hipospádia é mais frequente das malformações congênitas do pênis. Estima-se que a incidência seja de 3 a 5 casos para 1000 nascimentos. O que ocorre é o desenvolvimento incompleto da uretra anterior, do corpo cavernoso e do prepúcio; de forma que clinicamente a uretra se apresenta na face inferior do pênis e não na extremidade da glande. Na maioria das vezes o quadro é acompanhado de curvatura peniana ventral congênita e prepúcio exuberante e redundante apenas na face dorsal.

Em relação à embriologia estudos mostram que são necessários três hormônios para que haja a diferenciação da genitália primitiva para o fenótipo masculino: testosterona, 5 α-diidrotestosterona e substância inibidora de Mueller. A base etiopatogênica para a hipospádia é a deficiência da testosterona durante um período crítico de formação da uretra (da nona à décima terceira semana de gestação). Convém dizer que formação da genitália externa necessita de quantidades maiores de androgênio do que a formação da genitália interna, por isso a hipospádia apresenta-se isolada na maioria das vezes.
As hipospádias são classificadas de acordo com a localização do meato uretral. Podem ser anterior (50% dos casos – glandular, coronal e peniana anterior), média (20% dos casos – peniana média), e posterior (30% dos casos – peniana posterior, penoscrotal, escrotal e perineal). As anomalias associadas mais comuns são testículo cripotoquídico e hérnia inguinal (com incidência de 9% que eleva-se para 30% nos casos de hipospádias penoscrotais ou mais graves), nestes casos a ocorrência de utrículos, cistos prostáticos e remanescentes müllerianos também é maior. Em casos de pacientes com outras anormalidades em órgãos ou sistemas diferentes o médico deve fazer uma investigação do trato urinário por meio de ultrassonografia; as anomalias mais importantes a serem investigadas são estenose da junção ureteropiélica, refluxo vesicouretereal grave, agenesia renal, tumor de Wilms, rim pélvico, ectopia renal cruzada e rim em ferradura.
O único tratamento para correção das hipospádias é a cirurgia. A correção cirúrgica visa corrigir tanto o aspecto estético quanto funcional. Em relação à funcionalidade o meato uretral ectópico impede que o fluxo urinário seja lançado para frente, podendo muitas vezes obrigar as crianças urinarem sentadas, desenvolvendo-se aí um grande trauma psicológico; e na fase adulta, esta implantação ectópica pode fazer com que o ejaculado não percorra o devido caminho intravaginal, gerando infertilidade. Outro aspecto a ser corrigido é a presença da curvatura peniana, que posteriormente pode levar a dificuldade de penetração vaginal.
Atualmente existe mais de 300 técnicas diferentes descritas na literatura para a correção das hipospádias e o objetivo de todas é a reconstrução cirúrgica formando um pênis sem curvatura, com reposicionamento do meato uretral tópico, e com aspecto satisfatório da glande de modo que o fluxo urinário seja direcionado para frente, o intercurso sexual seja normal e ocorra ejaculação apropriada do sêmen.
A idade ideal para a realização da correção cirúrgica é por volta dos seis meses de idade em neonato saudável. A cirurgia precoce evita a ansiedade por separar-se dos pais e o medo da cirurgia genital que ocorre com o reconhecimento do órgão pela criança. A técnica escolhida para o reparo depende de vários fatores, sendo que os pontos chaves são a qualidade da pele e do tecido esponjoso do meato uretral anormal. Os casos graves requerem dois estágios de correção sendo que o segundo estágio é feito após cicatrização completa da ferida ou após seis meses do reparo inicial, por volta de um ano de idade.
As principais complicações das cirurgias de correção de hipospádia são fístulas, estenoses uretrais, meato retrusivo ou proximal, curvatura residual e anormalidades cosméticas.

Referências Bibliográficas
JUNIOR, A. N. et al., Urologia Fundamental – Sociedade Brasileira de Urologia, Editora PlanMark, 2010.
JUNIOR A. M. & SROUGI., Artigo de Revisão – Hipospádias, Rev Ass Med Brasil, 1998.
SNODGRASS W, et al., Hypospadias dilemmas: A round table, Journal of Pediatric Urology, 2011