Incontinência Urinária

Por Brunno Teixeira Teles Silva


A incontinência urinária é considerada qualquer perda de urina de forma involuntária. Já a incontinência urinária de esforço (IUE) seria essa mesma perda involuntária de urina, porém durante esforço ou prática de exercício, ao tossir ou espirrar. Têm-se ainda a incontinência urinária de urgência, que está diretamente relacionada com a urgência miccional, além da polaciúria e a nictúria. Todas essas definições relacionadas à perda involuntária da urina geram impacto na qualidade de vida desses indivíduos, tanto socialmente como sexualmente.

            Epidemiologicamente, têm-se uma variedade de resultados dependendo do tipo de incontinência, da idade e do sexo do indivíduo acometido. Na IUE têm-se uma prevalência entre as mulheres de 25 a 35%, dependendo da população estudada. Entre aqueles que possuem incontinência, 5 a 8 % apresentam um ou mais episódios semanais de perda urinária. Além disso, acima dos 60 anos as mulheres têm o dobro de chance de apresentarem o quadro em relação aos homens.

            A incontinência urinária está relacionada a uma integridade anatômica e fisiológica tanto de bexiga como dos esfíncteres do aparelho urinário. Além disso, um estado mental normal e a presença de uma capacidade de mobilidade, destreza e motivação são fundamentais para uma micção normal, fatos estes presentes em jovens e menos comuns em idosos. No caso da IUE têm-se uma alteração da pressão de fechamento uretral causada por uma disfunção esfincteriana ou por alterações da posição e mobilidade do colo vesical e da uretra proximal. Em muitos casos esses dois fatores coexistem e a maioria das mulheres incontinentes apresenta tanto uma hipermobilidade do colo vesical quanto certo grau de disfunção esfincteriana. Não se sabe ao certo como essas disfunções ocorrem, mas acredita-se que em alguns casos esteja relacionado a fatores obstétricos, principalmente partos normais. Entre outros fatores estão alterações teciduais como a qualidade do colágeno, idade, peso corpóreo, genética, fatores neurológicos, hormonais e psicológicos, além do fator iatrogênico.
            Antes da realização de uma análise clínica da incontinência, é preciso entender rapidamente como funciona a continência urinária normal. Ela é dividida em três partes: mecanismo proximal, do terço uretral médio e intrínseco. No mecanismo de continência proximal tem-se que quando existe um enchimento vesical a musculatura lisa (fibras do sistema simpático, nervo hipogástrico) entre o detrusor e o anel trigonal se contrai, fechando o colo da bexiga e durante a micção essa mesma musculatura provoca o afunilamento do colo vesical. Já no mecanismo do terço médio da uretra, a continência se dá pela presença de dois tipos de fibra muscular, a de contração lenta que garante o tônus basal da uretra e a de contração rápida que confere uma contração reflexa quando ocorre um aumento da pressão abdominal. Por fim o mecanismo intrínseco, composto pela mucosa e submucosa uretral, tecido elástico da parede uretral e envoltório muscular liso da parede periuretral, está relacionado a fibras elásticas que oferecem um reforço passivo ao fechamento uretral.
  A análise clínica da incontinência urinária passa por uma anamnese bem feita. Questionamentos como as características dos episódios de perda urinária auxiliam na definição do tipo de incontinência. Outros dados como a severiadade da perda, necessidade de uso de absorventes, antecedentes obstétricos, ginecológicos e neurológicos, interferência do problema na qualidade de vida, são dados que ajudam no diagnóstico. Em pacientes com incontinência urinária utilizam-se métodos como o diário miccional, que significa registrar todos os dados relacionados às perdas de urina em um período de 48 a 72 horas, avaliando sinais e sintomas como polaciúria, noctúria e episódios de urgência.
Outro fator importante é o exame físico, que pode comprovar a perda urinária e avaliar a presença e quantificação de prolapsos genitais. Além disso, exames neuro-urológicos também podem ser realizados para averiguar a sensibilidade perineal e anal, o reflexo bulbocavernoso e o tônus do esfíncter anal, que nos permite ter uma idéia da integridade das vias neurológicas responsáveis pela inervação dos órgãos e do assoalho pélvicos. Ainda na tentativa de auxiliar o estudo clínico da incontinência urinária realizam-se exames como urina I para avaliar hematúria e piúria, avaliação do resíduo pós-miccional e a avaliação urodinâmica que analisa a dinâmica vesical e esfincteriana observando disfunções uretro-vesicais.
Após diagnóstico, o tratamento é feito por medicamentos, fisioterapia do assoalho pélvico ou cirúrgico. A fisioterapia visa à melhora da função muscular do assoalho pélvico através de técnicas terapêuticas como a cinesioterapia. Já o tratamento medicamentoso visa o aumento do tônus da musculatura lisa uretral. Fármacos de ação adrenérgica elevam a pressão de fechamento uretral, auxiliando na correção do problema e o mais utilizado hoje para esse fim é a duloxetina, um antidepressivo.
Por fim, o tratamento cirúrgico da hipermotilidade uretrovesical visa a recolocação do colo vesical e uretra em seus locais anatômicos, chamada de cirurgia de colpofixação abdominal ou vaginal. A disfunção esfincteriana intrínseca pode ser tratada com cirurgia de suporte uretral com faixas (slings), injeções suburetrais de substâncias de preenchimento ou implante de esfíncter urinário artificial, sendo hoje a implantação de slings sintéticos o tratamento de escolha.
 


Referências Bibliográficas

- Urologia Geral de Smith, 17ª edição.
- Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar – Unifesp/Escola Paulista de Medicina. Urologia
- PROTEUS: Palestras e Reuniões Organizadas para Preparação ao Título de Especialista em Urologia SBU.