O termo bexiga neurogênica designa a disfunção vesicoesfincteriana de etiologia neurológica. Lesões na inervação do trato urinário inferior afetam geralmente a musculatura detrusora e o complexo esfincteriano uretral. Consequentemente, surgem disfunções vesicais, esfincterianas ou combinações de ambas. Portanto a bexiga e os esfíncteres uretrais perdem, em graus variados, a capacidade de controle voluntário, promovendo uma incontinência urinária, dificuldade de esvaziamento vesical, infecções e insuficiência renal.
Causas congênitas e adquiridas podem promover alterações na inervação do trato urinário inferior, levando à Bexiga Neurogênica. Em geral as causas congênitas são detectadas mais precocemente, sendo as mielodisplasias a causa mais comum de disfunção neurogênica na infância. Já as causas adquiridas geralmente se associam-se a outras alterações funcionais, física ou mentais, pelo acometimento simultâneo das inervações.
A urina é armazenada em condições especiais e a bexiga é esvaziada sob controle voluntário, em momentos oportunos, sendo necessário para isso a integridade do sistema neurológico responsável pelo controle de tais funções. O funcionamento vesical está baseado em um arco reflexo com sinapse medular em nível S2-S4. O enchimento da bexiga gera estímulos progressivos, desencadeando o arco reflexo que leva a contração detrusora. No momento desejado, os esfíncteres relaxam voluntariamente e é cessada a inibição sobre o arco reflexo sacral, para que ocorra a micção. Contudo para que haja uma função vesicoesfincteriana adequada deve haver integridade neurológica desde o córtex cerebral até as terminações nervosas na bexiga. A lesões neurológicas, tanto de etiologia congênita ou adquirida podem levar a distúrbios do funcionamento do trato urinário inferior, com variados graus de comprometimento.
A queixa básica dos pacientes está relacionada com a perda urinária involuntária. A coexistência de mais de um fator potencialmente causador de alterações da micção torna a queixa na maioria das vezes confusa, sendo necessário a individualização, para quantificar a contribuição de cada um para o problema final. ( Exemplo: Incontinência urinária de esforço na mulher e com outras causas neurológicas de disfunção, como diabete melito e doença de Parkinson).
A propedêutica da bexiga neurogênica (BN) é realizada por anamnese, exame físico e exames subsidiários. A anamnese do paciente com suspeita de BN, deve conter informações detalhadas desde antes da instalação do quadro neurológico em questão até o momento da consulta. Deve-se identificar se as mudanças do padrão miccional foram abruptas ou progressivas, além da caracterização das perdas urinárias, bem como os métodos utilizados pelo paciente para o esvaziamento vesical, que são fundamentais para a compreenção da disfunção.
Ao exame físico, devem ser analisados a sensibilidade cutânea, reflexos no períneo e membros inferiores, alterações de movimentação e ocorrência de perda urinária. No sexo masculino, deve constar a avaliação digital da próstata , enquanto que no sexo feminino, exame ginecológico para verificação de mobilidade uretral a esforços abdominais e perda urinária nestas circunstâncias.
Uma vez completada a investigação clínica, são necessários os exames subsidiários, com o objetivo de fornecer dados morfológicos e funcionais do trato urinário superior e inferior. A avaliação por imagem consiste na identificação de litíase urinária, dilatações do trato urinário superior, de refluxo vesicoureteral, de divertículos de bexiga e de estenoses uretrais funcionais ou anatômicas.
Mesmo após toda a avaliação clínica e subsidiária, ainda não é possível ter a certeza do tipo de bexiga neurogênica, sendo obrigatório e decisivo a realização do estudo urodinâmico. O objetivo do exame é simular os eventos urinários que ocorrem no cotidiano do paciente. O tratamento da Bexiga Neurogênica deve ser baseado na preservação do trato urinário superior; controle e prevenção de infecções urinárias; promoção da continência urinária e reintegração social do paciente.
Referências:
- Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar – UNIFESP/ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA; Dall’Oglio, M.; Srougi, M.; João Nesrallah, L.; Ortiz, V. Editora Manole;