Urolitíase (Cálculos Renais, Pedras)


Por Mariana Rodrigues Alves


O cálculo renal, também chamado de pedras nos rins, é uma doença conhecida pela sua dor de grande intensidade. É uma doença bastante comum, com uma prevalência em torno de 10% da população, e com grande taxa de recorrência. Como ocorre? E como prevenir o aparecimento de novos cálculos? Leia neste artigo essas e outras informações sobre os cálculos renais.   
        

A formação de cálculos no trato urinário é um problema comum que atinge um grande número de indivíduos em nossa sociedade e sua incidência vem aumentando nos últimos anos, principalmente nas nações industrializadas. A urolitíase é a terceira maior afecção de trato urinário após as infecções e doenças da próstata e é caracterizada por recorrência em 50% dos casos. A prevalência mundial de litíase urinária aumentou de 3,8%, entre 1976 e 1980, para algo em torno de 6%, entre1994 e 1998. Atualmente, a prevalência mundial é algo em torno de 10% a 15% da população. Os homens são afetados mais frequentemente que as mulheres, e o pico de idade de início é entre os 20 e 30 anos de idade. A predisposição familiar e hereditária para a formação de pedras é conhecida há muito tempo.
Os cálculos urinários podem ter várias constituições diferentes. São elas: oxalato de cálcio, estruvita, ácido úrico e cistina.
1.           Cálculos de oxalato de cálcio: corresponde a mais de 65% d todos os cálculos renais; a causa mais comum é a hipercalciúria idiopática (aumento dos níveis de cálcio urinário sem aumento do cálcio sérico), os mecanismos envolvidos na hipercalciúria estão relacionados a um aumento na absorção intestinal de cálcio, perda renal de cálcio ou aumento da desmineralização óssea.
2.                 Cálculos de estruvita (fosfato amônio-magnesiano): são relacionados à infecção urinária por germes produtores de urease, principalmente Proteus mirabilis e Klebsiella; a presença de urease promove a hidrólise da uréia, que por sua vez produz uma base (amônia) que não é completamente neutralizada; este fato provoca aumento do pH urinário e deposição dos cristais de estruvita.
3.                 Cálculos de ácido úrico: a litíase de ácido úrico está relacionada a pH urinário baixo, pouca ingestão de líquidos e hiperuricemia, geralmente secundária a dieta rica em purinas ou a distúrbios metabólicos, como gota; quando não estão associados a oxalato de cálcio, são radiotransparentes.
4.                 Cálculos de cistina: ocorre em pacientes com cistinúria, que é uma doença autossômica recessiva relacionada ao trasporte intestinal e renal da cistina.

Em relação aos aspectos clínicos temos que podem ser assintomáticos ou podem causar um dano renal significativo. Em geral, os cálculos menores são mais perigos, porque podem passar pelos ureteres, produzindo cólicas, uma das formas mais intensas de dor e obstrução ureteral. Pedras grandes não podem entrar nos ureteres e é mais provável que permaneçam silenciosas na pelve renal. Comumente os cálculos grandes se manifestam primeiramente pela hematúria. Os cálculos também predispõem à infecção sobreposta, tanto pela natureza obstrutiva quanto pelo trauma que produzem.


Os principais exames complementares usados para diagnóstico dos cálculos são:
·                     Exame de urina: pode revelar hematúria microscópica e apontar sinais sugestivos de infecção urinária. Além disso, a identificação do tipo de cristal presente na urina é capaz de ajudar na identificação do tipo de cálculo existente.
·                     Ultra-sonografia (USG): é eficiente para a avaliação de litíase renal, sendo capaz de analisar a integridade do parênquima renal e o grau de dilatação do sistema coletor. É capaz de detectar cálculos radiopacos e radiotransparentes, mas pode não identificar cálculos de pequenas dimensões.
·                     Radiografia simples de abdome: quando associada à USG, pode diagnosticar a maior parte dos cálculos renais. Isoladamente, é capaz de diagnosticar cerca de 85% dos cálculos urinários, mas sua sensibilidade está diretamente relacionada à opacidade do cálculo ao Raio X.
·                     Urografia excretora: é o melhor método de avaliação do paciente com litíase renal, permite avaliar a integridade do parênquima, a função renal – através da concentração e velocidade de eliminação do meio de contraste –, a presença de obstrução ao fluxo de urina e a anatomia do sistema coletor do rim.
·                     Tomografia computadorizada (TC): tem sido cada vez mais utilizada, principalmente a TC “spiral”, em casos de cólica renal e é capaz de identificar quase todos os tipos de cálculos e de dilatação do ureter.

Quanto aos métodos de tratamento têm-se que eles podem ser: tratamento clínico, Litotripsia extra-corpórea por ondas de choque (LEOC), Nefrolitotripsia percutânea (NLPC), Ureterorrenoscopia, Cirurgia renal. Porém a mais usada atualmente é a LEOC e será esse o tratamento aprofundado aqui.

A litotripsia extracorpórea por ondas de choque passou a ser utilizada no tratamento da litíase renal no início da década de 80 e é atualmente a forma mais comum de tratamento dessa doença. Na LEOC um equipamento chamado litotripsor gera ondas de choque fora do corpo do paciente, as quais atravessam os tecidos do corpo até atingir os cálulos urinários. Os cálculos rompem-se em partículas em forma de areia, o que permite a sua passagem através do trato urinário na urina e sejam eliminados. Assim, LEOC permite tratar a litíase urinária de forma não invasiva, reduzindo muito o tempo de recuperação do paciente.
Uma vez tido um cálculo renal, a pessoa sempre estará susceptível à formação de novos cálculos. A taxa de recorrência é de 10% no primeiro ano, 35% nos 5 anos subsequentes e 50 a 60% em 10 anos. Por isso a grande importância de medidas de prevenção. Uma simples e importante mudança para prevenir as pedras nos rins é o aumento da ingestão de líquidos, preferencialmente água, no mínimo de 2 a 3 litros por dia. Para as pessoas com maior propensão para formar cálculos de oxalato de cálcio, a redução da ingestão de certos alimentos pode ser indicada se a urina conter um excesso de oxalato. Esses alimentos incluem: chocolate café, cola, nozes, beterraba, espinafre, morango e chá. Para os cálculos de estruvita, também chamados infecciosos, após a sua remoção é importante manter a urina livre da bactéria que pode causar a infecção. Exames de urina regulares são indicados para monitorar a presença da bactéria na urina. Em alguns casos, há necessidade do uso de medicamentos específicos para prevenir a recorrência de cálculos. É importante ressaltar que a prevenção de novos cálculos deve ser feita pelo resto da vida.               


Referências Bibliográficas:

· Robbins e Cotran, bases patológicas das doenças / Vinay Kumar… [ et al.] ; [ tradução de Patrícia Dias Fernandes… et al. ]. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2010.
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· Francisco J.B. Sampaio e Geraldo Di Biase Filho, Litíase Renal, Guia prático de urologia, 2000.
· José Fabio Kolzer, Rogério Paulo Moritz, Renato Garcia, Eficácia e Segurança em Litotripsia Extracorpórea por Ondas de Choque, Santa Catarina.
· Gusson, D. G.; Malagutti, W.; Barbosa, R.; Rodrigues, F. S. M.; Ferraz, R. R. N.; Prevalência e Recorrência de litíase urinária em uma população de estudantes universitários da grande São Paulo, São Paulo 2009.